30/07/2009

Dos talismãs

Gosto muito de guardar coisas. Não necessariamente durante muito tempo, mas muitas delas, guardadas, descobri poderem transformar-se em talismãs de textos. Guardo-as às vezes longamente e um dia, de repente como hoje, despertam-me uma vontade imperiosa de escrever.

Foi exatamente isso que aconteceu, nesta manhã, com um bilhete pequeno, manuscrito, daqueles à toa aos quais quem escreve pode não ter prestado nenhuma atenção. Guardei-o, essencialmente, porque nele meu nome está escrito de uma maneira que me aquece e reconforta. Posso redesenhar dentro de mim todos os movimentos de alma que a sua primeira visão me descobriu. As suas linhas fluidas e imaginativas despertam-me tantas, mas tantas possibilidades, que se o soubesse quem o escreveu talvez tivesse usado uma olivetti antiga. Ou não... quem sabe!?

Tenho pena de não ter prestado atenção ao meu avô quando muito entusiasmado queria me contar sobre seus estudos de grafologia... Mesmo não entendendo o que significa esse traçado diferente das três letras do meu nome, fico-me nesse bilhete, e demoro-me, enamorada das linhas que o desenharam, reparando na forma distinta que assumem ao escreverem o resto do bilhete, mera formalidade sem traço de nada.

Essas pequenas coisas, quando tenho tempo, preenchem-no. Uma vez li numa biografia da Florence Nightingale que os devaneios infantis acompanharam-na por toda a vida. Certamente o que me aproxima desse bilhete está muito perto de um devaneio, embora o teor não seja infantil, e fico pensando se a solução para o atendimento médico da guerra da Crimeia, e os movimentos heróicos da primeira dentre todas as enfermeiras, terá sido filho ou neto de um devaneio. Agrada-me a ideia, porque assim quem sabe o meu devaneio pessoal, que nada tem eu sei de heróico, tenha também uma chance de se perfazer concreto.

Curto, este texto? É para se parecer com o bilhete.

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