Acontece por todo lado, nos espaços
mais insuspeitos. De certa forma, é um alívio, porque afinal constata-se que está
arraigado o costume, não é coisa apenas da própria vida ou do próprio círculo.
Basta sair de casa pra ver o fenômeno acontecer. Acho até que saio justamente para que isso aconteça, e meu coração se aquiete. Só pode ser isso: não é possível que em tão pouco tempo se esparramem exemplos tão palpáveis.
Primeira parada: supermercado. Cai-me um exemplo no colo: é óbvia a boa intenção de quem escreveu, nem é possível achar que foi falta de atenção, percebe-se o capricho. Morri de rir quando li. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E às vezes confundem-se as coisas, troca-se uma letra na leitura, outra na escrita, e o resultado não é o esperado. E, aqui, a ordem dos fatores incomoda o resultado. Ainda que a primeira reação seja o riso.
Primeira parada: supermercado. Cai-me um exemplo no colo: é óbvia a boa intenção de quem escreveu, nem é possível achar que foi falta de atenção, percebe-se o capricho. Morri de rir quando li. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. E às vezes confundem-se as coisas, troca-se uma letra na leitura, outra na escrita, e o resultado não é o esperado. E, aqui, a ordem dos fatores incomoda o resultado. Ainda que a primeira reação seja o riso.
A seguir, passo no restaurante da esquina. Tradicional, arejado, com cara de estabelecimento antigo onde se comia antes de comer fazer mal. Seus pratos, generosos, servem fácil até 6 pessoas, e ainda se leva marmita porque sempre sobra coisa! O cardápio quer ser internacional, provavelmente porque o dono deseje acolher também os de outros lados do mundo, o que é louvável, aplaudível, uma dose de simpatia extra que se constata assim que se bate um papo com o próprio. Mas lá vem mais um exemplo pra
me cutucar e fazer escrever estas linhas, confirmando que a intenção se afasta às vezes (quantas vezes!) do resultado que se deseja. (E mais um ataque de riso.) Porque não se sabe, porque não se perguntou, porque se chegou a conclusões apressadas sobre a forma como os outros dizem (ou seja, sentem) as coisas. Com a melhor das intenções.
Mas pior de tudo, penso conforme desço a escadinha do restaurante, é quando se deve dizer alguma coisa e não se diz. Quando se guardam as medidas e as proporções e se escondem as próprias falhas e mazelas e desejos e dúvidas atrás de um silêncio que é o que menos respeita o outro e as suas diferenças. Porque as toma por incompetentes, incapazes (ainda que a intenção não seja essa). Subestima quem está ao redor. (idem) Desrespeita aquele princípio básico que já a Declaração Universal dos Direitos Humanos consagrou, de que todos nascem iguais (ibidem). Para provar, afinal, que todos nascem iguais, sim - mas uns tornam-se mais iguais do que outros, que assim ficam diferentes e não por isso podem (ou precisam, qual a diferença?!) ser entendidos, ou seja, considerados. Mesmo com a melhor das intenções.
Afinal, sol alto a queimar tudo ao redor, decido guardar a máquina fotográfica e voltar para casa. Antes que fique tarde. Antes que desanime da caminhada que me falta. Antes que decida pedir uma festa de um só e acabe dançando sozinha.