16/02/2012

Nuvens


Nem adianta o céu azul lá fora, menos ainda o calor que se anuncia para perto do meio dia: há muito pra fazer e quase nada daquele ímpeto necessário ao cumprimento das coisas. Passeio pela casa como se não me dissesse respeito tudo o que precisa acontecer. Faço listas que posso imaginar cumprir, mas só até o momento de terminá-las. Rasgo-as. E começo outras.

Ao menos comprarei o que falta. Embora disso dependa sair, andar e escolher. Não quero nenhum dos três: quero o estado de parada atenção interna, e mais nada. Há um vulcão dentro de mim em processo de doma, e eu quero perceber o exato momento em que o que é não basta e o vulcão consegue galgar-me a superfície. Para que aprenda qual é o momento, e o momento não me surpreenda ao abrir a porta.

Alguns dos filhos aparecem a intervalos regulares. Não posso ajudá-los, cada um de nós numa solidão de compartilhamento difícil.

Há experiências de vida assim; descem lentas como orvalho a meio da madrugada, escorrem como luzidios fios de cristal quando a alvorada se anuncia, e se transformam em mil cores boiando num lago em que mergulho a minha sede, mas sem conseguir saciá-la. Porque o lago é um espelho, e deste lado só vejo o reflexo. Sem mergulho. 

Só nuvens num dia cor de azul celeste.

6 comentários:

  1. É tão bom vir a este cantinho ler estas palavras que são tuas mas parece que estão também dentro de mim. Obrigada.

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    1. Querida - e eu adoro que visites este cantinho, assim como eu ando pelo teu às vezes, a ver o que as tuas mãos fazem.

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  2. Quisera poder dizer-te: sossega, está tudo bem e no seu tempo. Mas o que quero dizer é: por que a gente sempre tem que ir embora?
    Saudades...
    Antô

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    1. Antô Antô - par que sempre possamos chegar, talvez?!

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  3. Vô te seqÜestrar!!!!!!!!!!

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