Meus amigos acharam estranho o nome: alstroeméria. Fui conferir e, de fato, o nome da flor que levei de presente é esse mesmo. A culpa é de Claus von Alstromer, um sueco barão que em 1753 recolheu suas sementes e as levou para a Espanha - lá, ficaram conhecidas como Lírio dos Incas. Ainda assim, o barão deve ter gostado de lhes dar o seu nome, tanto quanto eu gostei de tê-las oferecido.
Flores são presentes que gosto de dar. Especialmente de corte, porque demandam o cuidado e a atenção de buscar-lhes um recipiente. Entre todas, gosto especialmente delas, as alstroemérias - além de lindas, duram uma eternidade (ou quase). Associam-nas, aqueles que gostam da linguagem das flores, à felicidade que pode unir as pessoas. As suas folhas crescem ao contrário: a folha torce-se ao sair do talo e ao final elas ficam todas viradas ao contrário, suaves contorcionistas. Como as amizades e outros sentimentos assim, que precisam torcer-se vezes sem conta sobre si mesmos para sobreviverem. Não precisam de tanto contorcionismo, estes amigos: a amizade entre nós não se interrompe, apesar da distância e do tempo que escasseia e impede que nos encontremos como gostaríamos.
Gosto de pensar que as alstroemérias que lhes levei permanecem no jarro da sala, seu recipiente físico, e aí ficarão durante muitos dias, viçosas, coloridas e sobretudo resistentes. O recipiente maior, no entanto, está dentro dos meus amigos, naquele lugar que abrem para o nosso encontro. É aí que esse símbolo que escolho com cuidado, as alstroemérias, encontra seu lugar de verdadeiro acolhimento. Quando há espaços internos para receber e ser recebido.
Como elas, resistimos, alicerçados uns nos outros. Para não sucumbir, para não permitir que o cansaço, a falta de tempo, as voltas que a vida dá impeçam que se veja diante dos olhos, luminoso e altivo, o entrelaçado da vida. À distância, os olhos dos meus amigos abrem-se para a permanência que as alstroemérias conferem ao lugar em que estão, e sei que sentem, por entre as suas flores, a presença concreta da nossa amizade. Tão concreta quanto as alstroemérias da foto: ontem, tentei reeditar essa forma de sentir. E as flores repousam dóceis e resistentes na janela da sala.
Como elas, resistimos, alicerçados uns nos outros. Para não sucumbir, para não permitir que o cansaço, a falta de tempo, as voltas que a vida dá impeçam que se veja diante dos olhos, luminoso e altivo, o entrelaçado da vida. À distância, os olhos dos meus amigos abrem-se para a permanência que as alstroemérias conferem ao lugar em que estão, e sei que sentem, por entre as suas flores, a presença concreta da nossa amizade. Tão concreta quanto as alstroemérias da foto: ontem, tentei reeditar essa forma de sentir. E as flores repousam dóceis e resistentes na janela da sala.