Como é que se interrompe uma coisa assim? A saudade se atenua. As dores se dividem. As alegrias se espelham. E o bem que um faz tranquiliza o coração do outro.
Prestes a uma cirurgia em pleno
carnaval, um amigo antigo, daqueles sem data, nem de produção nem de validade, embarca
numa conversa que parece falha de sentido – mas há um senso por trás, e eu
sinto-o enquanto primo as teclas que desenham o que escrevo na tela. De repente
a vida virtual tão real, as palavras querendo ser, não há vazios, mas excessos
de sentido. Um exagero concreto de tudos.
Uma outra presença flutua pelos
mesmos céus por onde eu mesma flutuo, e encontramo-nos lá, assim como nos
encontramos neste canto de tela. E de repente a presença se concretiza, frágil e convicta ao mesmo tempo. Leem-se as entrelinhas, o que deixa de ser
respondido, não se insiste, e aprende-se o tempo, o senhor de tudo, o tempo, o
tempo.
Tenho recuperado, graças aos
recursos virtuais, amizades que o tempo fez questão de iludir. Da primeira
infância, pessoas que demoro a reencontrar na memória, as fotos ajudam mas não
parecem da minha vida. Já outras são reencontros tão alegres, tão pouco comedidos,
que parecem ser de fato de pele e osso, sangue e músculos que se reencontrassem
num abraço caloroso. E ainda assim, mesmo sem o corpo a corpo que valeria um beliscão,
é tão bom saber que estão lá, que não nos perdemos achando que não nos
encontraríamos.
Amigos que só existem aqui inspiram-me
um tanto de pensamentos. Alguns conhecem tão bem a minha escrita que a saudação
já os faz perceber o meu estado de espírito. Vejo o que me dizem, com a
liberdade que confere o nunca nos encontrarmos frente a frente, uma intimidade
que se pode mais forte, e tanto se me dá que seja ilusão ou invenção o que
contam, o que dizem, o que respondem. É alimento da mesma forma, e eu seleciono
e aproveito tudo o que aos meus olhos posso aproveitar. E é muita coisa - são
muitas, muitas palavras, que se juntam às que já vivem em mim e me fazem
desaguar em forma de escritura no mar de papel que me rodeia. Só me resta agradecer.
é tudo tão simples!
ResponderExcluir... na maioria das vezes.
ExcluirVida virtual...vital para os que se distanciam, por um ou outro motivo, e que necessitam matar a sede e a fome da saudade dos que ficaram espalhados por aí.
ResponderExcluirE viva a rede virtual que nos aproxima!!!!
Mil beijos pra vc!!!
To com saudade viu...
Bia.
É pra isso que serve: pra matar fomes e sedes. Beijo, Bia!
ExcluirCaramba Ana,
ResponderExcluirQue honra virar personagem de narrativa assim como quem não quer nada, numa noite, "de vagar"!
Bacana, gostei mesmo!
Beijo
Claret
sem vagar e sem pressa. no tempo certo. bj pra vc tbem - e boa cirurgia!
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