“Estranha toda esta chuva em julho” – por todos os lugares por onde passei neste mês, se houve algo que os uniu foi esse comentário pela boca de vários. Literalmente, falar do tempo - que é o que pessoas costumam fazer quando não têm muito o que se dizer umas às outras. Ou não querem: o clima é um bom aliado na tarefa de nos escondermos dos que estão em volta.
Eu sinto por vezes falta de conversas de verdade, e talvez essa falta seja no fundo de poder olhar para o outro dentro dos olhos, daquele jeito em que chegamos a ver refletida na pupila alheia a nossa própria imagem – e isso sem manobras discursivas, é algo para ser literal. É uma sensação e tanto, sobretudo se pensarmos que o mesmo acontece com o olho do outro, que se vê refletido em nossa pupila, permitindo um defloramento de alma cheio da única intenção de obedecer à vontade de conhecer o interlocutor. Por dentro e de verdade. Não é a mesma coisa que sustentar o olhar, veja bem, que essa é tarefa de quem está perdido em si mesmo e por isso precisa sustentar alguma coisa de seu quando olha o outro, para não ser invadido onde não quer. Essa história de pupila vem lá de dentro, de onde a razão apenas arranha para entrar.
No meio de toda esta chuva, é difícil achar as pupilas dos outros, e não consigo saber se a falta é minha ou das circunstâncias. Avançar para dentro dos outros é tarefa difícil, delicada, arriscada, com muitas chances de ser abortada quando se imagina já ter completado a missão.
Demanda certo clima.
Às vezes, encontramos olhos que não procurávamos, e recuamos assustados pela invasão inesperada. Outras, são os outros que fogem, pelas mesmas razões. É preciso uma sincronia profunda e uma empatia sincera, uma abertura interna que nos permita, através desse ponto luminoso no espaço da nossa anatomia, sermos um pouco do outro, sem barreiras e sem receios. É uma entrega poderosa, que se mantém durante semanas viva na memória e não admite preconceito.
Nestas férias, fiz-me de algumas pupilas, e hoje, numa espécie de cômputo geral do mês (gosto disso, das retrospectivas valorativas, deve ser um vício ou um engodo, quem sabe uma dobra de caráter), fico feliz com o resultado, e decido registrá-lo por escrito. Logo me imobilizo, porque, se penso muito, deixo de perceber o quão sutis foram esses encontros, quase mal dou por eles, precisei do cômputo geral para perceber de verdade. O quanto passou despercebido aquele, o quanto me incomodou aquele outro, ao qual fugi, covarde de mim mesma.
Fico imaginando de que maneiras estas trocas e estes encontros foram conscientes no outro – será que percebem o que eu percebo? Porque também é dessa matéria, esses encontros: o ser volátil e diáfana (venho há semanas querendo usar essa palavra com propriedade). Conversar sobre ela (matéria), a obrigaria a se desfazer no ar, e de tão incongruente desapareceria até da memória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário