Como se fosse a minha própria
sustentação, levantam-se quatro colunas nas laterais do que virá a ser a sala
de casa – ou melhor, ergue-se a sua dura e rígida estrutura, férrea e
oxidada. Olho-a de baixo e fico impressionada com a sua vaziez, a sua paciente
espera pelo concreto que a sedimente na sua função e no seu tônus correto.
Metros e metros enterradas abaixo do nível em que piso, são as responsáveis
pela terra espalhada por todo canto. A mesma terra roxa que coloriu
nossos pés como se fôssemos pra guerra e o chão de casa como se cenário
antropólogo.
Paro o que faço para observar o esqueleto da coluna. Imóvel, extático, tão alheio a tudo o que parece a vida.
Falta-lhe o tendão do cimento, a carne da pedra, o sangue da água que a tudo
amalgame. O céu lá em cima assiste impávido, e o ferro sobe, cresce, galga
degraus inexistentes e finalmente alcança a laje da casa que já existe. Um
novo membro em estado de acolhimento. Dói em quem já estava aqui – há furos
pela parede que já existia. Mas não há lamento, tudo é silêncio agora que a
marreta, a pá, a enxada se foram. Apenas um incômodo visível, cheio de dores e
marcas. Mas a coluna veio pra ficar, para se tornar mais sólida até, para
permitir que a vida se amplie e abrace mais espaços, mais seres, que o sol que
nasce para todos aqueça também todas as peles.
Valdete demora pra voltar – e as
colunas ficam onde estão, à espera desse pedreiro que só vem aos sábados,
pacientes e indomáveis como o tempo, resistentes e quase parecendo insensíveis. E eu continuo sentada, olhando a singeleza
dessa construção de barras de ferro e arame, querendo ver a obra terminada, a
casa limpa, as colunas incluídas para sempre no corpo da minha casa. Ainda que saiba que o sempre é uma categoria relativa, reconstruída a cada dia, cada dia um novo dia.
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