porque
a memória guarda o que quer
onde quer
como quer
Dentre os muitos prefixos
linguísticos, essas pequenas partículas capazes de subverter, reforçar ou reencaminhar as raízes a que se ligam, há dois que prefiro: re e co. Coisas que gregos e latinos
inventaram para nos fazerem pensar. Neste caso, ambos têm a sua origem em Roma.
E vêm em meu socorro para entender coisas simples que de repente se tornam
complexas - porque só as palavras têm esse dom.
Re responde usualmente pelo fazer de novo, pelo ir para trás e re-petir (pedir outra vez, no original), re-gredir, re-iterar, re-começar, re-cordar, re-gurgitar... Ações que, teimosas dentro delas mesmas, se necessitam re-visitadas, re-avaliadas. Ações que demandam que o pensamento re-flexivo se apresente e ajude a re-tomar situações. Não é necessária a ação concreta de duas ou mais partes, embora todas existam, e possam até ser levadas em conta. Co, por outro lado, atende por tudo o que pede concomitância, ação conjunta, companhia: lá estão as ações de co-mando, os
movimentos de co-operação, a necessidade de co-rroborar, de co-ordenar, de
co-laborar. Tudo junto, numa ideia de co-rrespondência entre as partes, entre
os lados, entre os cenários. Difícil usar essas duas letras que parecem tão
pequenas para alguma coisa que se queira isolada, separada, segregada, contida
e alheia.
Os anos fartos e generosos de
Demétria preencheram-me de inúmeros aprendizados que começam com essas duas
pequenas sílabas. Re-aprendi e re-descobri a cantar, a tecer, a tocar, a fazer, a amar, a falar, a gesticular, a calar, a escrever, a compartilhar, a ser franca; co-munguei de tanto e co-rrespondi e fui co-rrespondida em tantos sorrisos e afetos, que quase me sinto grávida de tão plena: tão grávida
quanto da última vez, a que fez nascer minha sétima filha.
Chegada imprevista, a meio de uma noite que se tornou insônia inquieta e não descansou a não ser quando quatro diferentes testes de gravidez foram comprados. Todos positivos em poucos segundos. Não havia lugar para dúvida. Por muitos re que tentássemos, uma nova vida se insinuava pela fresta da porta, impreterível, inalienável. E, durante uns dias, impronunciável. Demorou a transformar-se em co.
Chegada imprevista, a meio de uma noite que se tornou insônia inquieta e não descansou a não ser quando quatro diferentes testes de gravidez foram comprados. Todos positivos em poucos segundos. Não havia lugar para dúvida. Por muitos re que tentássemos, uma nova vida se insinuava pela fresta da porta, impreterível, inalienável. E, durante uns dias, impronunciável. Demorou a transformar-se em co.
Não é tão fácil apresentar-se a
si mesma, e depois aos outros, numa sétima gestação. Por muito que se goste do
estado interessante (e eu gosto), é como diz a amiga Marina: saímos fora de
qualquer estatística, difícil conviver com o próprio lugar sem angústias. Sem
ter o que re-pensar nem o que re-avaliar, um pouco de re-planejar talvez mas não
ainda, fiquei aliviada quando o início das aulas se aproximou, e com ele o
planejamento escolar, o re-encontro com o co-legiado de professores da Aitiara,
a volta à vida com sentido, nesse sem sentido que pareceu essa de repente nova
vida a caminho.
Atividade da primeira hora: um
pouco da biografia de cada um, porque a história faz-nos, e o ato de nos
fazermos história faz com que nos aproximemos uns dos outros. Ana Paula, hoje
em terras catarinenses, termina seu relato contando da chegada dos filhos, o
como marcou indelével a nova face da sua vida. Sem grandes planejamentos, algo
me impele a que emende ao seu final o meu começo, adiantando dentro desse
círculo mágico a gravidez invisível, numa necessidade súbita de que se tornasse
real ali, o ventre cheio, e não apenas dentro de mim e da minha casa, grupos dividindo espaços imensos em meu coração.
Entre os muitos co que nasceram na minha vida dentro desse ser chamado co-legiado de professores, figura a aceitação plena dessa gravidez, a alegria de dividir a minha própria alegria latente com quem está ao meu lado e com quem com um apenas olhar me diz aceitar o desafio de se fazer junto na vida. Claro que não para sempre, já diz a música que o pra sempre sempre acaba, mas por muitos e muitos meses, nas mais variadas e desafiantes configurações, esse ser formado em círculo foi manancial de confiança e alegria, um amor destemido daqueles que se querem raros para que não nos acostumemos muito e achemos que são fáceis, banais e que podem re-fazer-se a qualquer tempo.
Entre os muitos co que nasceram na minha vida dentro desse ser chamado co-legiado de professores, figura a aceitação plena dessa gravidez, a alegria de dividir a minha própria alegria latente com quem está ao meu lado e com quem com um apenas olhar me diz aceitar o desafio de se fazer junto na vida. Claro que não para sempre, já diz a música que o pra sempre sempre acaba, mas por muitos e muitos meses, nas mais variadas e desafiantes configurações, esse ser formado em círculo foi manancial de confiança e alegria, um amor destemido daqueles que se querem raros para que não nos acostumemos muito e achemos que são fáceis, banais e que podem re-fazer-se a qualquer tempo.
Que bonito Ana! Você que ajudou meu Petrus nascer e que tanto me deu e me dá!Seus filhos que foram um pouco meus, a quem confiou sem exitar e que só me faz agradecer!Tão pouco te dei e tanto recebi!Se o circulo do colegiado te ajudou a receber seu fruto gerado é porque lá ela pairou como um anjo recebida num cálice do qual você era parte integrada e importante.
ResponderExcluirSilvio querido: vc está na linha de frente - e me deu muito mais do que pensa ter me dado. Obrigada pelas suas palavras.
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