Comecei hoje a fazer uma lista das coisas que deixei pelo caminho ao longo deste ano, procurando imaginar (de maneira a concretizar, claro está) uma forma de encaminhá-las e dar-lhes a atenção que merecem antes que chegue dia 31 do mês que vem. Listas são coisas divertidas de fazer, até porque de repente, tornando-se enfadonhas, alegram-se magicamente com algo poético contrabandeado para dentro das suas estreitas e lógicas linhas. (Mesmo que isso não ajude grandemente a tarefa em si.) E por isso eu decidi fazer uma lista das coisas que não tenho feito, porque tenho tarefas urgentes entre mãos e quero relativizá-las, até por ter ouvido hoje que estou fazendo coisas demais... Se descubro que há várias que não estou fazendo, e quero, talvez descubra por tabela que as que tenho entre mãos não são tão grande problema assim, e me libere das primeiras mais rápido, para poder dedicar-me às demais, que passam hoje a compor a minha mais nova lista.
Enfim: a tal lista foi se encumpridando rapidamente, enquanto ao mesmo tempo me vinha à memória um amigo que me contou viver fazendo listas de coisas a fazer, cotidianamente, para ao longo do dia ir percebendo que não conseguiria chegar-lhes ao fim – invejo-lhe a tranquilidade com que se ri da situação e o sossego com que se confronta com ela, as várias vezes que o faz, que eu sei não serem poucas.
Embora não termine o dia repuxando-me os cabelos, e não tenha assim uma dificuldade homérica em deixar para amanhã o que não podia mesmo ter feito hoje (como já saberia se tivesse pensado e medido direito as horas que tenho à disposição), aborrece-me saber que algumas pessoas ainda me esperam e que outras ainda me aguardam, e tantos outros sinônimos que existem para esse mesmo sentimento verbal que traz atrás de si um “quem espera, desespera”.
Nesse meio tempo, porque fui fazendo a lista enquanto arrumava umas coisas por aqui (ordem que aliás me permita dar conta do recado deste fim de semana, que será curto para o tanto de demandas), encontrei um azulejo antigo, presente da minha avó há muitos anos, desconfiada de que algumas coisas precisassem ser-me recordadas depois que ela se fosse. Minha avó Ofélia tinha esse jeito engraçado que vira e mexe ainda me surpreende pela capacidade de ter deixado recados pela vida, vários para mim. Um desses recados é o azulejo – já o assentei em paredes de duas casas, mas quando as deixei, às paredes, trouxe-o comigo, incapaz da surdez que me faria deixá-lo por lá. Deve ter sido um presente de quando eu tinha uns 7 ou 8 anos; tipicamente azul e português, grosso como só o eram os azulejos antigos, quebrou-se já duas vezes, e das duas vezes o colei. Vou deixá-lo agora aqui, repousando diante do meu nariz, que tantas horas passa à frente desta tela. Dividirei com ele a minha atenção, poderei olhar para ele e consolar-me, outras horas alertar-me para a verdade que traz inscrita e que tantas vezes me escapa. Tê-lo assim aqui perto imagino que vá facilitar-me a lista que fiz, e que, agora reparo, é tão preenchida por conversas, encontros, convites que quis fazer e não fiz, ou fiz e não dei andamento, ou me fizeram e não correspondi, ou por aí afora uma quantidade grande de itens que poderiam estar inscritos num tópico “encontros e trocas” - e vontade de estar com os outros tão perto que eu mesma me confunda sobre quem está onde estou e quem estou onde está.
Porém, graças ao azulejo que me saudará várias vezes por dia a partir de agora, saberei que: “saber esperar é uma grande virtude”, e eu assim me lembrarei de aguardar o dia que for, do ano que for, para receber o que for para ser recebido, ou dar o que for para ser dado. Sem esquecer, é claro, de que tudo é muito, sempre, relativo.
Listas de coisas a fazr me deixam nervoso, ou mais norvoso do que somente pensar nelas.
ResponderExcluirNão consigo fazer...
Listas de coisas a fazer me deixam nervoso, ou mais nervoso do que somente pensar nelas.
ResponderExcluirNão consigo fazer...