Há muitos anos atrás, ouvi uma palestra de Leo Buscaglia. Tinha acabado de ler um de seus livros ("Vivendo amando e aprendendo", esse da capa original aí ao lado) e me sentia muito impactada pelo que ele tinha escrito, a maneira como olhava para as pessoas, para a demonstração de amor e afeto entre elas. Estava no meio de um momento difícil, o coração encharcado pela enormidade de um oceano inteiro que me separava de quem (me) amava. Foi difícil, viver aquela perda, e o livro de Buscaglia chegou às minhas mãos. Aliviou-me os olhos, acalmou-me o coração, fez-me chorar.
Hoje não são oceanos que me separam de nada; os aviões voam no meu céu e eu posso estar dentro deles. Estou segura (ou quase) de por onde meus pés de carne e osso devem ir. Mas há outras águas à minha volta, águas escuras, silenciosas, águas que se reconhecem e onde se quer mergulhar e não sair nunca mais - mas assim que o mergulho se esboça, as águas mudam de lugar, pouco afeitas ao serem mergulhadas. Ainda que sejam na realidade poças d'água e não oceanos, doem tanto quanto. Sufocam por dentro, sobem garganta acima impedindo o ar que precisa descer aos pulmões. E os meus pés de carne e osso se confundem, e acham não saber mais o caminho.
Não sei onde pus o livro do Buscaglia, não posso lê-lo agora de novo. Só posso lembrar-me das ondas de tristezas passadas, descobrindo que passaram, que foram avançando pela praia da minha alma, absorvidas a cada vai e vem pela areia que a preenche. Posso lembrar-me das dores que guardei, mesmo que não tenha aprendido a aceitar as coisas que passam, como os verões da infância. Coisas que parecem intermináveis, e terminam, e sem elas a vida volta ao que os outros dizem ser o normal. Que nunca parece o normal.
É difícil compartilhar os momentos de tristeza - as alegrias, as conquistas, as descobertas, o dia a dia do qual se extrai algum significado e aprendizado, é mais simples. Buscaglia insistia, de um jeito caloroso que só ele sabia ter, que os nossos afetos precisam ser abertos, entregues, completos. Que não se criem reservas nem expectativas. E que dentro dos afetos haja reconhecimento das tristezas, que se deixem transbordar tal qual fazem as alegrias, os êxtases, a felicidade pura. Mas o risco de contaminar o outro, de entrar-lhe pelos olhos e tumultuar-lhe o dia parece-me tão grande que sim, escrevo, transbordo-me - mas as coisas ficam por aqui, à espera de algo inusitado que as preencha de uma centelha que seja luz. Para que a sombra não impere absoluta.
Buscaglia é a minha finalmente centelha de hoje. E por causa dele consigo transformar este longo longo dia, porque aproximo o que sou de quem lê, num encontro de humanidade e transparência. Justamente as duas coisas que me afligem hoje, que me encharcam dessa tristeza que preciso deixar sair, vazar, escorrer de mim, como as águas dos oceanos todos que me cercam, embalam e dão sentido aos meus dias, mesmo os longos longos. Um paradoxo, sim - como tudo o que é amor.
Hoje não são oceanos que me separam de nada; os aviões voam no meu céu e eu posso estar dentro deles. Estou segura (ou quase) de por onde meus pés de carne e osso devem ir. Mas há outras águas à minha volta, águas escuras, silenciosas, águas que se reconhecem e onde se quer mergulhar e não sair nunca mais - mas assim que o mergulho se esboça, as águas mudam de lugar, pouco afeitas ao serem mergulhadas. Ainda que sejam na realidade poças d'água e não oceanos, doem tanto quanto. Sufocam por dentro, sobem garganta acima impedindo o ar que precisa descer aos pulmões. E os meus pés de carne e osso se confundem, e acham não saber mais o caminho.
Não sei onde pus o livro do Buscaglia, não posso lê-lo agora de novo. Só posso lembrar-me das ondas de tristezas passadas, descobrindo que passaram, que foram avançando pela praia da minha alma, absorvidas a cada vai e vem pela areia que a preenche. Posso lembrar-me das dores que guardei, mesmo que não tenha aprendido a aceitar as coisas que passam, como os verões da infância. Coisas que parecem intermináveis, e terminam, e sem elas a vida volta ao que os outros dizem ser o normal. Que nunca parece o normal.
É difícil compartilhar os momentos de tristeza - as alegrias, as conquistas, as descobertas, o dia a dia do qual se extrai algum significado e aprendizado, é mais simples. Buscaglia insistia, de um jeito caloroso que só ele sabia ter, que os nossos afetos precisam ser abertos, entregues, completos. Que não se criem reservas nem expectativas. E que dentro dos afetos haja reconhecimento das tristezas, que se deixem transbordar tal qual fazem as alegrias, os êxtases, a felicidade pura. Mas o risco de contaminar o outro, de entrar-lhe pelos olhos e tumultuar-lhe o dia parece-me tão grande que sim, escrevo, transbordo-me - mas as coisas ficam por aqui, à espera de algo inusitado que as preencha de uma centelha que seja luz. Para que a sombra não impere absoluta.
Buscaglia é a minha finalmente centelha de hoje. E por causa dele consigo transformar este longo longo dia, porque aproximo o que sou de quem lê, num encontro de humanidade e transparência. Justamente as duas coisas que me afligem hoje, que me encharcam dessa tristeza que preciso deixar sair, vazar, escorrer de mim, como as águas dos oceanos todos que me cercam, embalam e dão sentido aos meus dias, mesmo os longos longos. Um paradoxo, sim - como tudo o que é amor.