Cansa-me, às vezes, a impressão de que há pessoas que não valem a pena. Detesto-me nesses momentos, mas aqui e ali aparecem inevitáveis. Ainda bem que são muito raros.
Fiquei hoje dando voltas em torno do porquê mesmo é que às vezes há pessoas que me parecem não valer a pena. É deprimente pensar algo assim de alguém, não gosto de mim nessas horas o tanto que devemos gostar de nós mesmos. Prefiro mil vezes inspirar-me naquele Gandhi que dizia que, se cem vezes fosse enganado por alguém, havia de confiar nele pela centésima primeira vez, sem titubear. Prefiro mil vezes acreditar nas pessoas cem e mil vezes outra vez, mesmo que me enganem e me digam quase que aos gritos que não vale a pena o sacrifício de andar a pensar nelas. Só que de vez em quando, e com algumas pessoas em particular, é difícil manter esse pensamento elevado, porque a impressão é de que não valem mesmo a pena os destroços com que nos vestem quando nos pespontam e alinhavam, em meio às dores que provoca o ser espetado por tantos alfinetes.
Às vezes, e mesmo envolta na angústia que só o sentir-me assim provoca, não valem a pena os créditos de celular que gasto para dizer um olá, porque mal me respondem e nem sequer se alegram com a lembrança. Dizer-lhes que a chuva cheirava diferente, e que por isso deu saudade daquele dia em que também chovia, não vale a pena, porque não há ouvidos escutatórios, apenas bigornas e martelos técnicos de um aparelho auditivo insensível às minhas lembranças, que seriam comuns apenas se valesse (e valessem) a pena. E detesto pensar que às vezes sinto que não valem a pena as horas que passo preocupada com a alegria ou o bem estar de quem não vale a pena, como se eu não devesse desejar alegria e bem estar a todos, independente da minha pessoa achar que valem ou deixam de valer a pena.
Mas há pessoas que são mais fortes do que o sentimento que tenho às vezes de não valerem a pena, e mesmo sabendo que talvez não a valham mesmo, lá estou eu de novo agarrada ao telefone para fazer um convite que muito provavelmente será recusado. E eu sei disso. E mesmo assim telefono.
Hoje, porém, tive uma imensa surpresa com uma dessas pessoas que às vezes acho que não valem a pena. Quando menos esperava (e não esperava não porque não quisesse, mas porque ao longo do tempo me desabituei de lhe esperar qualquer coisa), essa uma pessoa surpreendeu-me com um movimento que me permitiu pensar que vale, sim e afinal, a pena. Que vale a pena deitar-me daqui a pouco pensando como é bom ter amigos que não o parecem e de repente se revelam; como é bom manter a porta aberta à surpresa, ainda que seja muito, imensa e improvavelmente improvável; como é bom poder chegar aqui nesta folha em branco e dizer a todos, sobretudo àqueles que às vezes parecem-me não valer a pena, que eu estava enganada, porque não é possível que alguém não valha a pena. Não é possível que alguém não valha um carinho, um afago, um sorriso, um abraço, um chamego, um aperto, um doce de presente na porta de casa. E não é possível que, ao longo da minha vida, eu não me farte tanto dessa certeza, que ela deixe de importunar-me de vez em quando. Quero mais é saber visceralmente que todos valem a pena, e que essa certeza alimente a minha alma, torne-se a minha essência mais potente, a minha parte mais saudável, o meu lado mais brilhante e a minha estrela mais alta. E que nunca alguém que um dia me pareça não valer a pena me retire o poder de ver essa verdade que não quero questionar.