30/09/2020

Lua Cheia no Terreiro


Ao longo dos meses deste memorável ano de 2020, temos tido a oportunidade de olhar para os ciclos no céu. A constante sucessão entre luz e sombra, dia e noite, tem acompanhado as nossas reflexões e nossos olhos têm se habituado a ler algumas coisas nessa transição.

E logo (amanhã!), mais uma vez, será Lua Cheia. Uma Lua Cheia ariana, primeiro signo da roda zodiacal. Áries, junto com seu signo complementar, Libra, fala-nos de relacionamentos. Eu e o outro. Eu e os outros. É o grande eixo astrológico dos relacionamentos. Traz impulso quando bem ordenado, estagnação quando não.

A luz branca da Lua Cheia diz-nos, mês a mês, que é tempo de prestar atenção às revelações. E as revelações desta Luz Cheia estão, em muito, ligadas à maneira como vivemos o nosso eu dentro do outro e que lugar ocupa o outro dentro de nós. Num jogo de luz e sombra, é preciso encontrar equilíbrio. E nestes tempos de passeio longo de Marte também por terras de Áries, é preciso também forjar a coragem de ver o que precisa ser visto.

Como um Terreiro é uma comunidade de almas, é preciso pensar nisso, observar a si mesmo na sua relação com o outro. O espaço do outro, o tempo do outro, o lugar do outro, a responsabilidade do outro - e como tudo isso vive, age e reverbera dentro de mim.

Talvez seja difícil a esta Luz Cheia em Áries comunicar-se, talvez tenhamos dificuldade em sair de nossos próprios casulos para contar daquilo que necessitamos. O arquétipo ariano não tem essa facilidade. E talvez realmente não devamos. Talvez o melhor seja olhar para o espelho com coragem, em silêncio e no à vontade que só a solidão propicia. Fácil? Talvez não. Mas certamente produtivo.

Temos recursos, construídos ao longo de meses, aos quais nos entregamos em pura confiança nas orientações e instruções que recebemos do mundo espiritual. Aprendemos a cantar. Aprendemos a rezar. Aprendemos a fazer silêncio. Aprendemos a esperar. Aprendemos a respeitar a obediência e a disciplina. Aprendemos o poder do ritmo. Esses aprendizados, hoje, são ouro ouro em nossas mãos.

Nesta Lua, as nossas fibras poderão ser estiradas ao máximo. Poderemos ter a sensação de não suportar. De não querer mais. Poderemos querer desistir. Poderemos estar pressentindo as distensões que ainda nos aguardam.

Mas algo, de dentro do aprendizado feito, gritará dentro de nós e dirá resiste. Suporta. Firma teus pés no chão que tu mesmo plantaste. Não recues.

Nestes tempos de impossibilidade de planos, de perspectivas turvas, temos as nossas mãos para trabalhar por nós - e pelos outros, não nos esqueçamos dos outros! Temos os nossos corações para cultivarmos a elevação dos pensamentos e dos sentimentos em direção à essência do que somos. Temos as nossas almas para desvendarmos mundos que ainda sequer imaginamos. 

Não nos deixemos vencer pela aparência dura e seca do mundo, não nos deixemos quebrar pela dureza e pela secura das palavras que ouvimos. Como tudo, também isso passará. E, quando o fizer, precisaremos de nós mesmos inteiros. Respiremos fundo e mantenhamos o passo. Nem retroceder, nem parar. Os dois pés avançam, dizem-nos os alegres e inocentes Erês - um de cada vez. O primeiro chama-se "reza". O segundo, "fica quieto". Aquietemos nossos corações e pratiquemos o olhar interno, para entendermos qual é o nosso lugar no fora e para que possamos lidar com nossos desconfortos e nossos despertencimentos.

Um comentário:

  1. Que preciosidade esse texto! Chegou-me na hora precisa. Muito obrigada Ana.

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