03/08/2012

Dias curvos

Um dia curvo. Tal qual o define o dicionário: que não é reto, nem formado por linhas retas; que não é plano; inclinado para diante.

Curvam-se as horas, os tempos - nada de espaços retos e horizontes infinitos. Curva-se tudo o que vive, indisposto com as coisas que se estendem paralelas. Como se inadequadas.

Como as paredes que sobem retas, as grades dos portões que impedem passagens, as esteiras de um aeroporto infinito, avançando solitárias no meio de luzes sem cor da madrugada.

Um dia curvo. De sinuosidades da alma. De entregas sem respostas retas. Do futuro impregnado nos olhos,  às curvas pela montanha acima, desnorteado, em meio à neblina que transforma cada curva em espaço inóspito. Linhas curvas dos antebraços do passado, dobrados diante do que é inevitável no tempo. Linhas curvas das camisas que se dobram para guardá-las nas gavetas.

Por isso inclinar-se para diante: para que o abismo venha ao encontro e as curvas se transformem em retas, ainda que sejam daquelas que caem. Tudo, menos as linhas estagnadas e circunscritas: é disso que se fazem os dias em forma de curva.


3 comentários: