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05/05/2014


Apareceu profunda, ampla e ritmada. Um útero quente. Desdobrou-se em vogais e consoantes, cor de comida recém feita. De fruta madura. De cheiro de mata nas mãos que colhem as ervas.

Segredou em silêncio. Disse do cuidado. Da atenção. Do não resvalar pelas curvas desenhadas o despreparo e a desatenção. Disse da verdade, a própria, a de cada um, intransferível e autêntica. Tudo em segredo, como se soubesse que, se dito em voz alta e ouvido em som breve, o mundo é uma filigrana de neve.

O segredo foi coisa sabida. Mas a neve derrete sem contenção diante dos que não podem ouvir. O segredo em seu assomar mergulha de olhos fechados. E se as palavras roucas rebatem em ouvidos moucos, para que gastar a garganta?

Calou-se, portanto. E no silêncio tornou-se decálogo. A Palavra feito razão. A razão feito ensinamento. A razão como motivo. A palavra quando Palavra.

Nada de profundidade para quem nada à superfície.
Subtrair o peso é cultivar a leveza.
Para não morrer afogado, lavar a alma em solidão.
Espremer a vida quando a extração valer a pena.
Dentre as almas grandes, atenção nas que são pequenas.
Em tudo há o que precede e o que sucede.
Vestir-se de prata e ouro, todos os dias.
Ajustar-se quando não for usurpado.
Respeitar os segredos do silêncio da alma.
Revelar naquilo que se faz atento.