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25/05/2015

Segunda feira

Plena manhã de segunda feira. Acordo com uma estranha e inquietante vontade de rotina. De que o dia se organize sem a minha particular intervenção. Que não precise exercitar essas dádivas que hoje me cansam só de lembrar, pensar no que é preciso fazer, quero-ou-não-quero, devo-ou-não-devo. Só uma coisa, e depois outra, e depois mais uma, cada uma com tempos e lugares e formas estabelecidas em algum tempo que não seja hoje. Uma rotina, por favor.

E eu não sei acordar desse jeito. Não sei dialogar com essa urgência. E parece-me melhor descobrir de onde vem, e quem sabe acalmar o espírito.

Pois rotina, na realidade, é muito o contrário do que pensamos.

Só há rotina quando algo é rompido - por isso seu ancestral linguístico é rupta - um caminho aberto à força. Não nos é natural a rotina, porque não nos é natural querer romper. (Começo a gostar do que encontro.) E o princípio da rotina exige que abramos caminhos à força, que nossos braços se ocupem em rumpere - em quebrar, em romper.

E lá estamos nós com o tal caminho aberto à força. E começamos a trilhá-lo uma e outra vez. Os franceses ocuparam-se em transformar aquela rupta em route, ou seja, rota. Em pouco tempo, de tanto trilhá-lo, porque deve ter sido mais fácil do que andar pelos lados intransitáveis, nova metamorfose: de route, routine - uma trilha batida, um curso costumeiro de ação. Agora, sim, a velha conhecida rotina.

Essa vontade que nos dá, muito repentinamente, de querermos uma rotina, é no fundo uma vontade enganosa. Parece que o que queremos é o encontro de um trilho, e de por ele seguir com ilusório conforto, sem precisar pensar muito a respeito. Mas não.

É outra coisa.

É querermos abrir caminhos novos com a força da nossa vontade. Esteja essa vontade nos braços, nos pés, nas mentes ou dentro do nosso coração. Algo em nós clama por rotina: algo em nós clama por transformação e possibilidade. 

E assim se começa uma segunda feira, descobrindo que por trás do que se quer há muito mais do que se pensa.