Diz-se isso, algures: que o sol é a riqueza dos pobres. Veio-me à lembrança porque dia desses me perguntaram de onde mesmo vinha a palavra quarar. Com ajuda de uns e outros, descobri que a palavra deriva do corar lusitano, absorvido e transmutado pelo tupi. Vale o mesmo que branquear, ao sol, a roupa branca necessitada de um tratamento extra. Ninguém mais faz isso: talvez os pobres, quando o sol lhes é a única riqueza.
E por que isso? Porque tenho uma amiga que me pergunta, aflita, o que fazer com um lençol sujo, encardido e manchado. Poderia parecer mais fácil comprar um novo. O que custaria? Vinte reais? Que seja: as soluções fáceis e rápidas contêm em si um perigo. Vamos assumindo-as como se fossem possíveis, e a vida vai se tornando, com a sutileza das coisas que parecem não ter importância, uma coisa descartável: manchou, troca; sujou, compra um novo. No momento sério, aquele que ao olhar para trás poderá revelar-se o limiar de um novo nós, pode ser que tendamos a fazer o mesmo. E de repente descobrimos que nos perdemos. Melhor quarar a alma ao sol, vez por outra.
Pergunto a minha amiga de que manchas quer ela se livrar. De tudo, responde evasiva. Não vou me meter na sua vida - melhor ajudá-la de forma pragmática, até porque gosto de encontrar soluções que nos livrem do supérfluo do supérfluo, especialmente em termos de limpeza. Descubro uma infinidade de dicas para quem quer voltar a ter um lençol branco como neve, sem esvaziar as prateleiras do supermercado. Como pode ser que sirva a outros (quem não tem um lençol pra lavar?!), segue abaixo o receituário completo.
Lençóis brancos, e a sua irrecusável sensação de limpeza, estão perto do que as nossas almas respiram: sujam-se e limpam-se e sujam-se e limpam-se. Erram e acertam, e acertam e erram. Às vezes, precisam de ajuda, especialmente para o limpar-se e o acertar. Pequenas dicas de quem já tenha se sujado e errado por aí. O importante, creio, é não se render, imaginando que as manchas possam ser descartadas ou encaixotadas - como uma pele que trocássemos porque a nossa se enrugou antes da hora. Cedo ou tarde, elas voltam - melhor cuidar delas, e com o carinho que merecem por tudo o que nos fizeram e fazem crescer. À alma, ponho-a a quarar amanhã cedinho; quanto ao lençol, seguem-se outras possibilidades:
- deixá-lo de molho durante a noite com uma colher de sopa de amoníaco ou suco de limão;
- se muito, mas muito sujo mesmo, ferve-lo em balde de alumínio, com uma colher de sopa de terebentina. Amoníaco, na falta dela. Suco de limão, na falta de ambos;
- lençol amarelado, mais do que sujo? Lave-se com meia xícara de álcool;
- a mancha é de sangue? Esfregue-se com água oxigenada 10 volumes;
- uma tampa de anil líquido, 3 colheres de sopa de álcool, 1 colher de sopa de amoníaco e 1 colher de chá de bicarbonato parece bruxaria - mas é da branca. Deixa-se de molho por 4 horas e não se elimina da receita o bicarbonato, que é quem impede que o anil manche;
- mais uma: em água fervente, dissolvem-se 2 colheres de sopa de sabão em pó, 1 colher de sopa de aguarrás e 1 colher de sopa de amoníaco; acrescenta-se a mistela a um balde com água fria, onde a roupa ficará de molho por 4 horas;
- a inusitada: em balde grande, dissolvem-se duas colheres de sopa de sabão em pó; bate-se até formar espuma e então junta-se um saquinho de filó cheio de cascas de ovos esmagadas. Molho de uma hora;
- para deixar preparado e juntar à água da lavagem: 4 litros de água, 1/2 kg de sabão em pó, 1 kg de bórax ou ácido bórico (vende-se em farmácias e serve também pra fazer bombas caseiras também; pode ser que alguém ache estranho...). Aquece-se a água, dissolve-se o sabão em pó e depois o bórax. Não é preciso ferver. Deixa-se esfriar e guarda-se. Usa-se uma xícara bem cheia no tanque; 3/4 na máquina.
- e se você é daqueles que preferem ver, e só vendo pra crer:
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ePaRlGPPKHABoa limpeza!