Preciso te agradecer.
Por me teres ajudado a descobrir o
que carregava dentro sem saber. Por teres oposto as tuas mãos ao desdobrar do
meu coração.
Por teres sido da forma que apenas
poderia ter sido aquele que me abriria e me colocaria de joelhos diante de meu
próprio altar.
Preciso te agradecer.
E mais ainda me agradecer.
Por ter entrado e saído vezes sem
conta do paraíso para cair no inferno, e vice-versa e outra vez, e não ter
desistido de querer entender o que sabia ser possível saber. Por ter permitido o rasgar e o
estilhaço de mim mesma, para que de dentro desse casulo saísse a que sou hoje,
e que se desnuda sem pudor diante de ti para te agradecer.
Preciso te agradecer. E não é difícil
nem fácil. É antes o que é, necessário e óbvio como são os passarinhos quando
cantam ao nascer o sol, todo e cada dia. Preciso me agradecer por ter sabido
esperar. E aguentar a incompreensão de mim mesma, a minha falácia, as minhas
prisões. Sem ficar frente a frente com cada uma delas, continuaria vivendo em
seu interior. Eram precisas mãos que me arrancassem para fora, e as mãos que
chegaram foram as tuas. Selvagens e ácidas, e por isso mesmo o canal que
necessitava.
Por isso, nos agradeço, a nós dois, e
a esses momentos abertos, inconstantes e inquietos, apenas eles
tranquilos em seu interior, talvez sabendo de antemão da trilha de cada um.
Imagem inspiradora: Trois dauseuses,
1924. Silkscreen de Pablo Picasso.
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