No início, quando ainda nem sequer era o Verbo, pareciam muitos, e indistintos. Vestidos da mesma forma, sentados em carteiras iguais, ocupando salas idênticas. As horas pareciam as mesmas, as idas e as vindas idem, as saídas e as entradas repetições quase lineares.
Tentei aprender-lhes os nomes todos logo no primeiro dia. Frustrei-me, claro. A memória ainda não falha, mas tem limites. E afinal é disto que se trata: de limites que podemos galgar, atravessar qual areias de deserto, pedindo licença, com gentileza, para avançar mais um pouco, até começar a perceber uma espécie de trama fina de intimidade em processo de formação. Em pouco, pouquíssimo tempo. Não sei se haverá algo mais luminoso.
Tiramos os quês, as explicações, as palavras desnecessárias da escrita. Abriram-se os porões das propostas, e lá foram elas, acolhidas com destemor e abertura. Cada vez que acontece, eu me vejo nadando nas águas dos milagres humanos. Não tem coisa igual.
E bastou menos de um mês. Não para aprender os 360 nomes diferentes dessas pessoas novas que agora povoam a minha vida, nem de saber com certeza inabalável qual corresponde a quem. Mas bastou um mês para que a ilusão da aparência idêntica abrisse espaço para as diferenças e as peculiaridades - as grandes e pequenas coisas da identidade de cada um, esboçadas em gestos, em olhares, em tropeços aqui e ali, tudo quase invisível. Bastou um mês para que se estabelecesse, em meio a correrias de sala para sala e bons dias de sorriso aberto, um reconhecimento e um esteio de amizade e afeto. Daqueles que valem tudo na vida. Como, assim, não ser e se declarar feliz?
Foto: Giovani Ferreira
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