Antonio Sampaio da Nóvoa é reitor da Universidade de Lisboa. Homem culto, falante de várias línguas, lúcido, inteligente e afetuoso. O seu discurso no dia 10 de junho, em Lisboa, convidado oficial para falar no dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, não se furtou à crítica necessária, e dura, ao estado atual desse país ibérico. Contundente e forte, a sua fala reflete o seu compromisso com a reinvenção do país que é o seu, e que assume como sua tarefa. 15 minutos densos e leves ao mesmo tempo. Recheado de referências poéticas, seu discurso assume a a coragem de erguer o nome de José Afonso, 25 anos passados da sua morte, quando cantava "enquanto há força (...) cantemos todos".
Gosto imensamente de saber que somos amigos, gosto de encontrá-lo nas suas presenças por aqui, porque por poucas que sejam as palavras que tenhamos tempo de trocar, percebo-lhe sempre essa segura, clara e afetuosa maneira de tratar a vida, aproveitando os momentos que outros tomariam como circunstância para vivê-los de fato e ser-se intenso. Ouvi-lo neste 10 de junho foi um presente.
É desta forma que gosto que Portugal apareça à minha porta. E logo hoje, quando mais tarde se cantará o fado, levanto-me animada pelas palavras de poetas que não frequento com assiduidade. Vozes que demoram a deslizar das prateleiras, ficam ali paradas à espera, até que o dia (hoje) chegue. Leio-os e sinto o mar no seu encontro com o Tejo, um cheiro que não se repete em nenhum outro lugar do mundo. Hoje, dia de Santo Antonio, padroeiro de Lisboa, revejo as calçadas de Alfama, os becos da Mouraria, a encosta do Castelo, formigueiros humanos que se juntam para cantar e dançar, comer umas sardinhas, beber um vinho da casa. Sento-me à mesa da tasca da Estrela e peço uns caracois, ainda que não seja tempo deles. E olho em volta para as paredes azuis, para as mesas de mármore lustrado e côncavo de tanto uso, para o chão de tábuas corridas por onde tantos de tantos séculos caminharam, e respiro aliviada, porque se o passado existe em mim, o presente tem luz e o futuro é mais que uma promessa.
A terra ou o mar?, pergunta Nóvoa, repetindo séculos de história. Crescer dentro de si ou partir para longe? Centenas de aventureiros marítimos lançaram-se mar afora, ampliando a alma de um país que se faz pequeno no espaço. A escolha insistente pelo mar, abandonando a terra à própria sorte, cobra seu preço hoje. E o que Nóvoa faz é denunciar as nossas ingenuidades, sem pôr de lado as ilusões. E a sua divisa acende-se nas palavras de Sophia - a busca de um país liberto, de uma vida limpa e de um tempo justo.
O discurso a que me refiro:
O discurso a que me refiro: